Mandala: uma porta para a consciência em evolução
Presentes nas rosáceas dos suntuosos vitrais
coloridos das milenárias catedrais europeias, nos misteriosos calendários
maias, nos mais longínquos monastérios tibetanos onde servem de suporte à
meditação, no yoguismo tântrico como instrumento de contemplação, as mandalas são
também encontradas nas mais antigas inscrições e desenhos da humanidade. Em
tudo, elas representam a totalidade do cosmos e o lugar que o homem ocupa nele.
Parece que os nossos ancestrais de todos os tempos sabiam intuitivamente que a
estrutura fundamental do universo é uma mandala. Basta que observemos a
natureza para identificá-las sob todas as formas, tamanhos e coloridos. Intuitivamente,
os nossos ancestrais sabiam que a estrutura fundamental do universo é uma
mandala.
A palavra “MANDALA”, no velho sânscrito, significa
“o centro”, “o círculo mágico”, “o mistério”. É geralmente descrita como uma
figura geométrica representada por um círculo sobre um quadrado ou vice-versa,
mas pode ser também construída ou desenhada em forma de um círculo, um quadrado
ou um retângulo, subdividido por quatro ou múltiplos de quatro, de maneira mais
ou menos regular, incluindo-se ou não outras formas. Sua característica mais
importante é que seu traçado é feito em torno de um centro, geralmente obedecendo
a eixos de simetria e pontos cardeais. Entretanto, seu contorno exterior não é
forçosamente circular, mas dá a ideia de irradiar-se de um centro ou mover-se
em direção a ele. Por isto, quando uma pessoa observa uma mandala tem a
sensação de que ela se move e pulsa.
Um caminho em direção ao centro
Na Psicologia Moderna, o célebre psicólogo C. G.
Jung, criador da Psicologia Analítica, ao estudar as mandalas orientais e sua
utilização como instrumento de culto e de meditação, passou a desenhá-las,
descobrindo o efeito de cura que elas exerciam sobre ele mesmo.
Após anos de pesquisa e aprofundamento no
conhecimento do psiquismo humano, ele passou a utilizar a construção de
mandalas como método psicoterapêutico. Seus estudos o levaram a defini-la como um
círculo mágico que representa simbolicamente o Eu ou Self – arquétipo da
Unidade Interior.
Na Psicologia Analítica, a mandala é um círculo
mágico que representa a Unidade Interior. Investigando o uso das mandalas nas
tradições budistas, Jung descobriu que os conteúdos das mandalas tibetanas
derivam dos dogmas lamaicos. Na doutrina dos lamas ou lamaismo, elas não têm
significado particular porque são apenas representações exteriores. Para os
lamas, a verdadeira mandala é sempre “uma imagem interior gradualmente
construída pela imaginação ativa nos momentos em que o equilíbrio psíquico está
perturbado, ou quando um pensamento não pode ser encontrado e deve ser
procurado porque não está contido na doutrina sagrada”. Como são de grande
importância enquanto instrumento de culto, as mandalas tibetanas geralmente
contém, em seu centro, uma figura do mais alto valor religioso como, por
exemplo, Shiva ou Budha.
Entretanto, como instrumento terapêutico, a mandala
é utilizada, desde os tempos primitivos, pelos xamãs indígenas da América e
aborígenes da Austrália que, ainda nos tempos atuais, as gravam e desenham em
areia colorida. Também, místicos ocidentais e orientais de quase todas as
culturas, ao longo de toda a história da humanidade, já utilizavam mandalas
como “um caminho para reencontrar seu próprio centro”.
Existem, portanto, três tipos de mandalas: as de
culto, as de meditação e as terapêuticas. Elas se diferenciam em função do seu
uso e finalidade, mas também segundo o estado de consciência do indivíduo no
momento da sua criação, isto é, estado de culto, de meditação, de cura terapêutica
e de expansão da consciência, como instrumento de autoconhecimento e transformação
interior.
Entretanto, em nossas pesquisas com técnicas de
Expansão de Consciência, identificamos o que Gilles Guattari denominou “mandala
cósmica” – uma reprodução da dimensão cósmica da consciência da criação. As
mais conhecidas “mandalas cósmicas” do mundo são criadas pelo francês Stefan
Nowak.
A criação de uma “mandala cósmica” só ocorre num
estado especial de consciência, chamado “estado visionário”, em que a pessoa se
torna canal da consciência universal – que Jung chama de “arquétipo”, isto é,
representação, no psiquismo individual, da parte herdada da psique coletiva.
Esse chamado “estado visionário”* pode ser alcançado através da “consciência expandida”,
mas a sua manifestação prática exige um intenso trabalho interior de
autoconhecimento e descoberta dos próprios potenciais de realização exterior.
No “estado visionário”, a consciência cotidiana do
indivíduo se expande e, holograficamente, capta a dimensão cósmica da
consciência da criação. Por isso, geralmente as “mandalas cósmicas” parecem
explosões de luz.
A mandala cósmica é uma representação da dimensão
cósmica da consciência da criação.
Algumas pessoas procuram envolver a construção de
uma “mandala cósmica” numa auréola mística, como se a pessoa que a produz fosse
tomada por uma “energia especial” que dirige sua mão, independentemente da
participação de sua mente, do seu ego, do seu psiquismo. Entretanto, como
estamos vivendo a era do conhecimento, é preciso desmistificar, pois o estado de
consciência expandida pode ser alcançado por qualquer pessoa que o queira.
A elaboração de uma “mandala cósmica”, isto é, no
seu processo de criação, a pessoa, além do estudo e experimentação das cores,
utiliza também instrumentos de medida, como compasso, régua e etc. E é
exatamente por isso que ela é capaz de transformar a sua “visão cósmica”, captada
num determinado instante do tempo, em uma obra de arte única, inédita e extraordinariamente
perfeita. Esse tipo de mandala representa a ordem e a harmonia existentes no
universo e durante o seu trabalho o psiquismo da pessoa se reestrutura
internamente, unificando-se na dualidade. Isto significa simplesmente que a
construção de uma “mandala cósmica” nos ajuda a liberar as nossas forças
interiores de auto cura, pois esse processo é capaz de desencadear em nós a
ordem e a harmonia no lugar do caos.
Um novo e significativo todo
Portanto, além de possibilitar o autoconhecimento e
a conquista da unidade interior/exterior, reconciliando e integrando os
opostos, o trabalho com mandalas traz, também, como consequência, uma vida
simbólica mais intuitiva, mais criativa e individualmente mais livre, pois ajuda
a pessoa a entrar em sintonia com seu potencial interior, aceitando e
enriquecendo seu imaginário.
Para se realizar uma mandala é preciso aprender a
perceber a ideia que vem de dentro e integrá-la à percepção exterior,
tornando-a visível através de uma representação gráfica construída
intuitivamente ou desenhada com instrumentos. O foco da atividade é a auto
expressão do inconsciente, quando a pessoa reúne diversos elementos de suas
experiências pessoais. O resultado final é um novo e significativo todo.
Ao construir uma mandala, a pessoa expressa a sua
criatividade, reinventando-se e reconstruindo-se na direção de um novo e significativo
todo.
Sendo representação exterior de imagens do mundo
interior que obedece a uma dinâmica de reestruturação constante, as mandalas
são sempre “individualmente diferentes” e nenhuma se parece com outra, sendo
impossível reproduzi-las, mesmo pelo seu próprio autor. Isto porque, ao construir
uma mandala, a pessoa vivencia sua criatividade, expressa-se através dos seus próprios
meios, construindo os próprios códigos, reinventando o que já existe e criando
novos caminhos, pois a auto expressão é também um caminho de construção e
reconstrução do sujeito.
Portanto, seja qual for a técnica utilizada em sua
construção – individual ou em grupo, seja qual for seu uso ou finalidade –
estudo, meditação, autoconhecimento, todo trabalho com mandalas contribui para
a harmonia e o equilíbrio da consciência em evolução.
Fonte: http://www.anjodeluz.com.br/mandala.htm
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