sábado, 1 de outubro de 2016

O real significado da criança interior

"Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa"
Carl Gustav Jung (1875-196)

O que é ser criança?
Antes de eu falar sobre o que é ser criança, gostaria de trazer para você informações sobre o período da infância. A infância é um período que vai desde o nascimento até em torno dos 12 anos de idade. Este momento da nossa vida é marcado com um grande desenvolvimento físico e psicológico, envolvendo fortes mudanças no desenvolvimento da sua personalidade. O desenvolvimento da criança implica uma serie de aprendizagens que serão essenciais para a sua formação mais tarde, como adulto. Nos primeiros anos de vida, a criança deve ser estimulada para despertar os seus sentidos e a fala (linguagem). Com o passar do tempo, a criança vai aprimorando sua capacidade de se comunicar e é introduzida na escola, onde ela vai assimilar os valores culturais. A concepção de criança é construída pela cultura, ou seja, ela é socialmente determinada pelo ambiente em que vive, pois precisa exprimir as aspirações da sociedade e dos adultos a sua volta. Portanto, o seu responsável que irá legitimá-la como um individuo na sociedade. As crianças são muito receptivas as influências do seu meio. Da mesma forma, que a criança transforma as relações a sua volta, ela se modifica em contato com o ambiente. Não sei se todos sabem, mas por curiosidade o sentimento da infância é recente na história e o seu aparecimento ocorre em meados do século XIX. Mas o que chama mais atenção é que os Direitos Internacionais da criança e do adolescente, foram proclamados pelas Nações Unidas na década de 1950, a Constituição Federal em 1988 e o ECA somente em 1990, onde o Estado assumiu a responsabilidade pelos desvalidos e reconheceu a criança e o adolescente como sujeitos de direitos.
Jung definiu a infância, da seguinte maneira:
“No estágio infantil da consciência, ainda não há problemas, nada depende do sujeito, porque a própria criança ainda depende inteiramente dos pais. É como se ainda não tivesse nascido inteiramente, mas se achasse mergulhada na atmosfera dos pais. O nascimento psíquico e, com ele, a diferenciação consciente em relação aos pais só ocorre na puberdade, com a irrupção da sexualidade. A mudança fisiológica é acompanhada também de uma revolução espiritual. Isto é, as várias manifestações corporais acentuam de tal maneira o eu, que este freqüentemente se impõe desmedidamente... Até este período, a vida psicológica do indivíduo é governada basicamente pelos instintos e por isto não conhece nenhum problema. Mesmo quando limitações externas se contrapõem aos impulsos subjetivos, estas restrições não provocam uma cisão interior do próprio indivíduo. Este se submete ou as evita, em total harmonia consigo próprio. Ele não conhece o estado de divisão interior, induzido pelos problemas.”
Mas o que é ser criança? Para explicar o que é ser criança encontrei um poema longo num site e eu achei que ele expressa muito o tema do nosso artigo. Eu não coloquei ele todo porque é muito extenso, mas para quem estiver interessado... leia-o inteiro.
Acreditar no momento presente com tudo o que oferece!
Poder acreditar que há futuro!
Conseguir perdoar mais fácil do que brigar!
Esquecer um pouco das responsabilidades sem contudo ser irresponsável!
Inventar novas formas de ser criança!
Nascer de novo a cada dia!
Rir e brincar!
Ser feliz com muito pouco
Ser inventor, poeta e escritor!
Ter coragem de nao ter medo!
Viver o presente!
Fazer amigos antes mesmo de saber o nome deles!
Ter um riso franco!
Ser criança é poder contar com um adulto, ao lado, como um apoio.
Ser criança é ainda ser adulto que nunca esqueceu da criança que foi um dia, a criança que ainda vive em seu intimo e que justifica e dignifica todos os tropeços que teve que enfrentar no seu dia a dia para aprender a ter fé e acreditar em si próprio e sentir-se forte o suficiente para cria rasas e voar para a vida e assim ter o direito de viver, brincar, crescer, sonhar e realizar!
Acredito que a nossa criança interior é que guarda a verdadeira voz do nosso espirito, que é aquilo que a nossa alma deseja seguir como caminho de vida!
O que é arquétipo?
Os arquétipos são imagens primordiais ou imagens psíquicas do nosso inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo é a parte do inconsciente individual que resulta da experiência ancestral da espécie, ou seja, ele contêm material psíquico que não provêm da experiência pessoal. Os conteúdos psíquicos do inconsciente são os arquétipos, que possui uma forma de pensamento universal com muita carga afetiva. Os arquétipos são determinantes inatos da nossa vida mental e eles são originados através de repetições de uma mesma experiência durante muitas gerações. Dessa forma, pode-se dizer que os arquétipos são heranças genéticas dos nossos ancestrais, que pertenceram a uma determinada civilização ou povo que passaram pelas mesmas experiências. Isto nos leva de forma inconsciente a comportar-se de modo semelhante aos ancestrais quando devemos enfrentar situações similares. A experiência arquetípica vai se realizar através da emoção sentida quando atravessamos acontecimentos importantes na nossa vida, como por exemplo, um casamento, nascimento de filho, morte etc. Jung foi um dos primeiros psiquiatras a investigar profundamente as produções artísticas em todas as partes do mundo e durante as suas pesquisas ele percebeu que muitas pinturas, lendas, contos etc, repetiam os mesmos símbolos (lembrando que os símbolos são algo dinâmico e vivo, que vai além do consciente), ou seja, possuíam arquétipos comuns. Estou explicando de forma objetiva o que é arquétipo, porque a infância é um período muito importante na vida de todos nos e também possui os seus arquétipos, como veremos abaixo.
Os arquétipos da criança
Ao longo da historia da humanidade, a figura da criança sagrada surge em diversas tradições religiosas ou mitológicas. Suas características em comuns não são meras coincidências. São diferentes expressões de um mesmo princípio arquetípico, que corresponde a uma necessidade humana básica: a necessidade de evolução espiritual. A criança divina já surge completa, nada lhe falta.
A criança divina diz respeito ao eixo central que, tendo uma origem narcísica, permite a coesão do self. Trata-se de uma representação do “sopro divino”, de uma integração com a natureza, de um saber direto, intuitivo". (Carl Jung)
Carl Jung também cita:
A "criança" nasce do útero do inconsciente, gerada no fundamento da natureza humana, ou melhor, da própria natureza viva. É uma personificação de forças vitais, que vão além do alcance limitado da nossa consciência, dos nossos caminhos e possibilidades, desconhecidos pela consciência e sua unilateralidade, e uma inteireza que abrange as profundidades da natureza. Ela representa o mais forte e inelutável impulso do ser, isto é, o impulso de realizar-se a si mesmo. É uma impossibilidade de ser-de-outra-forma, equipada com todas as forças instintivas naturais, ao passo que a consciência sempre se emaranha em uma suposta possibilidade de ser-de-outra-forma. O impulso e a compulsão da auto-realização é uma lei da natureza e, por isso, tem uma força invencível, mesmo que seu efeito seja no início insignificante e improvável.
A criança sagrada é aquela que:

  • não perdeu a consciência da sua origem
  • melhor expressa as qualidades relacionadas aos nossos valores espirituais
  • possui uma sabedoria natural
  • possui os valores da nossa origem
  • está acima das limitações humanas, pois está diretamente conectada com o divino.
  • nos leva ao verdadeiro
  • fonte de poder e transformação
  • nos traz o amor incondicional e o futuro em potencial, pois prepara uma futura transformação da personalidade
  • unificação dos opostos
  • portador da salvação
  • propicia a completude
  • transcendência da consciência (com a inteireza de ser a si mesmo)
  • nos ajuda a experimentar o lado leve, prazeroso e divertido da vida
  • nos contagia com a sua positividade, trazendo à tona o que há de melhor em nós e nos outros
  • Flui para o futuro

O arquétipo da criança pertence ao arquétipos da sobrevivência e seu papel é despertar o reino de Deus dentro de nós, nos levando a um estado de consciência mais amplo. A criança Sagrada, brinca, tem alegria e espontaneidade, ou seja, é a manifestação do eu superior (a essência maior que há dentro de nós). Talvez seja por isso, que Jesus dizia : «- Deixai as crianças virem a mim, porque a elas pertencem o reino de Deus».
O arquétipo da criança integrado de forma saudável na nossa psique vai estimular a busca pela alegria de viver, fazendo com que encontremos mais diversão no dia a dia e além também de favorecer o equilíbrio entre momentos de prazer e responsabilidade. O arquétipo da criança possui como tendência de sombra quatro aspectos: a criança ferida, abandonada ou órfã , dependente, inocente, natureza ou divina. As tendências da sombra deste arquétipo pode nos enviar energias em diferentes situações do nosso cotidiano e seu principal problema costuma ser dependência versus responsabilidade.
Criança Ferida: A criança ferida mantém as memórias de abuso físico e emocional, negligência e outras situações traumatizantes que possam ter ocorrido no período da infância, lembrando que esta é uma fase da nossa vida muito marcante, pois é neste momento que esta sendo construída toda a personalidade do individuo. Os seus aspectos negativos envolvem o desenvolvimento do sentimento de autopiedade, uma resistência a perdoar e seguir em frente na sua vida, ou seja, ela fica presa ao passado. Há também uma tendência a culpar os pais por todos os acontecimentos ruins que ocorreram na sua vida. Ela ainda pode procurar outras figuras paternas e maternas para resolverem situações difíceis de sua vida, em vez de utilizar seus próprios recursos. Já o seu lado positivo, faz com que suas experiências dolorosas sejam transformadas em compaixão, podendo em alguns casos até surgir o desejo de querer ajudar outras crianças feridas. Do ponto de vista espiritual, a criança ferida aprende o caminho do perdão.
Criança Órfã: está relacionada ao sentimento das pessoas que não se sentem como parte sua própria família. Dessa forma, inconscientemente, a pessoa acaba desenvolvendo uma independência muito jovem. O seu aspecto negativo faz com que a pessoa guarde dentro da sua alma o sentimento de abandono, rejeição e muitas vezes acaba buscando outras famílias para experimentar o sentimento de união familiar. Ao entrar em contato com a criança órfã, a pessoa irá ter um ganho de consciência em constatar que curar essas feridas requer amadurecimento e assumir a vida adulta, estabelecendo relações maduras.
Criança Mágica ou Inocente: vê o potencial da beleza sagrada em todas as coisas e incorpora as qualidades da sabedoria e da coragem diante de momentos de dificuldade. Possui de um grande poder de imaginação e acredita que tudo é possível. A energia de sombra da criança mágica se manifesta na transformação ingênua do que é realmente mal ou prejudicial em aparentemente bom. Além disso, diante dos olhares descrentes e cínicos dos adultos de sua infância, pode ter aprendido a assumir atitudes de pessimismo e depressão, particularmente ao explorar seus sonhos. Ela ainda corre o risco de, ilusoriamente, acreditar que não é necessário agir e investir energia para que algo aconteça, entrando em um mundo de fantasias. Um exemplo é Anne Frank, que escreveu em seu diário que apesar de todo o horror que envolvia a sua família, enquanto estava escondida dos Nazistas em um sótão, ela ainda acreditava que a humanidade era basicamente boa.
Criança Natural: desenvolve um profundo contato com a natureza e em muitos casos possui muita afinidade com os animais. As Crianças da Natureza podem desenvolver habilidades avançadas de comunicação com os animais. Tem uma grande capacidade de resiliência, ou seja, de enfrentar situações complicadas e voltar a seu estado natural. A maioria delas considera fundamental para o seu bem estar psíquico o contato com animais e com os espíritos da natureza. Muitos veterinários e ativistas dos direitos dos animais ressoam com este arquétipo porque eles sentiram uma harmonia consciente com os animais desde a infância. Outros adultos descrevem que estão em comunicação com os espíritos da natureza e aprendendo a trabalhar em harmonia com eles. O aspecto sombra da Criança da Natureza se manifesta em uma tendência para abusar dos animais, das pessoas e do meio ambiente de modo geral.
Eterna Criança: Esse arquétipo nos guia a permanecer eternamente jovens em corpo, mente e espírito. O aspecto sombrio da Eterna Criança se manifesta como uma inabilidade de crescer e assumir as responsabilidades na vida como um adulto. Como Peter Pan, o Eterno Menino que resiste a terminar um ciclo da vida no qual ele é livre para viver fora dos limites do adulto convencional. Nas relações afetivas, pode aparecer como dependência de parceiros que ofereçam segurança física e material.
Criança Dependente: Carrega em si um opressivo sentimento profundo de que nada é satisfatório e está sempre em busca de encontrar algo que substituir algo que foi perdido em sua infância (esta busca costuma não ser muito clara). Tem tendência a uma depressão profunda e a ficar focada em suas próprias necessidades, sendo muitas vezes incapaz de ver as necessidades dos outros. Quando se dá conta desse padrão, aprende a evitar de entrar em um estado de dependência.
Criança Divina: Está bastante relacionada à Criança Mágica ou Inocente, mas se distingue dela por sua missão redentora ou salvadora. É associada à pureza e à inocência, além de apresentar qualidades que sugerem que essa criança tem uma união especial com o Divino. A sombra deste arquétipo se manifesta como uma inabilidade de se defender contra forças negativas. Avaliem o seu envolvimento com este arquétipo, perguntando se vocês percebem a vida através dos olhos de um Deus/Deusa benevolente, confiante, ou se vocês tendem a responder inicialmente com medo de ser ferido ou com um desejo de ferir os outros primeiro.
O que é a criança interior?
Como nós já vimos acima, agora podemos compreender melhor que dentro de cada um de nós, existe uma criança interior. Essa criança interior nada mais é a criança que fomos um dia. Ela vai nos acompanhar durante todo o percurso da nossa vida e influenciar em nossa decisões e comportamentos no nosso cotidiano. Mesmo que tenhamos atingido a idade adulta, alguns dos nosso comportamentos continuam sendo exatamente iguais quando éramos crianças. A criança interior nada mais é que o nosso verdadeiro EU, aquele eu bem profundo dentro da gente que corresponde a nossa verdadeira essência. Nossa verdadeira essência aparece quando fazemos coisas que nos dá prazer e nos fazem bem. Quando passamos por situações de muita violência na infância, pode-se acarretar prejuízos na vida adulta. Por isso, é importante conversarmos com a nossa criança interior e ajudá-la a compreender e a racionalizar as situações difíceis que ela teve que enfrentar, para que assim ela possa desapegar-se desses traumas alojados no seu coração. Acho importante acolhermos todas as partes da nossa criança interior, tudo o que ela traz, tanto suas tendências boas como ruins, para que assim estejamos livres para encontrar e melhor ainda, expressar a nossa verdadeira essência que existe dentro de nós. Quando a criança interior está desperta em nós de forma saudável ela nos traz coragem, entusiasmo e equilíbrio. Assim sendo, podemos também nos tornarmos mais capazes de transmitir amor à nossa volta e à nossa família.

Infância ideal e infância real
Em geral, levamos dentro de nós uma imagem da infância ideal, daquela em que o acolhimento e demonstrações de amor foram perfeitos. Essa imagem muitas vezes poderá ser projetada nos outros e lamentando-nos por um ideal, idealizamos relacionamentos e aumentamos nossa solidão e dor. Por trás dessas imagens da infância real e da infância ideal está a imagem da criança interior divina, que brota da camada arquetípica mais profunda de nosso ser.
A criança interior divina tem a inocência, a espontaneidade e o anseio profundo da alma humana por expandir-se e crescer. Às vezes, essa criança interior faz exigências muito intensas, apresentando-se por emoções, ansiedade, depressão, raiva, conflito, vazio, solidão, ou sintomas físicos. A força vital e natural desse arquétipo quer o nosso reconhecimento e ao ser ignorada pode acarretar sérias consequências quando adulto. Quando não fomos devidamente valorizados quando crianças, diminuímos o valor da criança interior e assim mantemos as vivências de nossa infância e seu sofrimento.
Para encontrar essa criança abandonada o mais indicado é através do processo analítico, ou seja, da psicoterapia com base no inconsciente, amparando essa criança e compreendendo seus sentimentos, pois a cura só acontece quando lamentamos nossos sentimentos mais íntimos. Assim, desenvolvemos a função transcendente, que nos conduz à revelação do essencial no homem. No início não passa de um processo natural. Jung deu a esse processo o nome de processo de individuação, o qual parte do pressuposto de que o homem é capaz de atingir sua totalidade, isto é, de que pode curar-se.
E essa cura pode muitas vezes ser obtida quando se encontra essa criança, muitas vezes abandonada, mas que nem sempre conseguimos reconhecer sua existência, principalmente pelo fato da resistência e máscaras que vamos desenvolvendo no decorrer da vida e que nos distancia de nosso verdadeiro eu.
O primeiro passo no processo de individuação é explorar a persona (máscara), pois embora tenha funções protetoras importantes, ela é também uma máscara que esconde o self, nosso verdadeiro eu, o inconsciente e tudo que ele contêm.

Fonte:
http://artedeserpsicologa.over-blog.com/2013/10/a-crian%C3%A7a-interior.html
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/crianca01.htm

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